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A Igreja faz o seu caminho no mundo sem ser do mundo, diz arcebispo de Maringá

(Terça-Feira, 12/03/2013, Fonte: Gaudium Press) “O mundo dos santos e dos papas” é o título do mais recente artigo de dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá, no Estado do Paraná. No texto, o prelado explica que nós encontramos o início da história dos papas na Sagrada Escritura quando Jesus Cristo disse ao apóstolo Pedro “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”. O apóstolo era chamado de Simão, e Cristo lhe dá o apelido de Pedro que em grego significa pedra, rocha.

De acordo com o arcebispo, Cristo nominando Pedro significa que o apóstolo seria a pedra firme, a rocha inquebrável que daria sustentação à Igreja, apesar de ser uma pessoa humana, frágil e sujeito à toda e qualquer limitação. Diante deste chamado, acrescenta dom Anuar, ele é destinado para “apascentar as ovelhas” (João 21,17), como pastor que conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas.

“O papa, portanto, é o sucessor de Pedro, o centro da unidade de toda a Igreja ‘é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis’ (Concílio Vaticano II: LG n° 23). Mais do que uma autoridade a promulgar dogmas e ensinar a doutrina, o papa é o elo de unidade e de comunhão de toda Igreja.”

Para o prelado, o segredo da Igreja para se manter viva como um corpo vivo milenar, atravessando séculos, culturas, guerras, discórdias, e sempre firme, é a certeza de que não somos nós humanos a conduzir este barco, pois o barco é de Jesus, que escolhe e chama homens, pessoas simples, humildes, para estar no lugar Dele, e com Ele tornar visível a casa, a assembleia reunida.

Por isso Jesus afirma: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles” (Mt18,20). Segundo dom Anuar, a presença de Jesus entre nós, mesmo às vezes pensando que Ele está dormindo no barco, é a garantia de ancorar em porto seguro, da calmaria em mar revolto, de tranquilidade em tempos difíceis. Ele ainda destaca que Cristo acalma, tranquiliza e questiona: porque tendes medo? As ondas do mar nunca serão mais fortes do que o barco do Mestre.

“Nestes dias de apreensão e curiosidade sobre quem assumirá o leme do barco, que é a Igreja, a mídia nacional e internacional escolheu alguns nomes chamados de papáveis. Neste elenco divulgado, não podia faltar dois dos nossos cardeais brasileiros. Eu fui abordado várias vezes para falar deles, pois os conheço de longa data. O homem a ser escolhido será surpresa para todos”, ressalta.

Por fim, o arcebispo partilha uma conversa por telefone que teve com dom João Braz Cardeal Aviz, nestes dias de reunião dos cardeais em Roma. Ele dizia: “Aqui entre nós não há nomes favoritos, ninguém comenta nada sobre este ou aquele. Estou impressionado com o clima de amizade e de abertura de coração existente nas nossas reuniões. É a primeira vez que participo e estou admirado pelo ambiente de confiança e companheirismo”.

“Assim que a Igreja faz o seu caminho no mundo sem ser do mundo (Jo 17,10). É igreja é santa e pecadora, feita de homens e mulheres santos e de papas santos. Para mim, Bento XVI deu um sinal público e notório de santidade ao reconhecer-se limitado, incapaz fisicamente falando, para estar no leme do barco. Só é capaz de atitudes heroicas, de gestos que tocam o coração, aquele que se deixou moldar pelo amor verdadeiro, pelo serviço desinteressado, pela autoridade discreta”, conclui dom Anuar. (FB-JS)

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“Para o bem da Igreja”

Sem dúvida, o governo de Bento XVI se caracterizou, do ponto de vista humano, por uma atitude discreta e despretensiosa muito bem expressa nas palavras iniciais do seu Pontificado: “Os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações”.

“Como cristãos possuímos o futuro. E ele é nosso,
o futuro é de Deus”

Esses quase oito anos de Papado foram marcados também pelo temperamento reflexivo, lógico e coerente de Joseph Ratzinger, sempre propício a uma análise serena e profunda dos acontecimentos, sem fugir dos problemas mais complexos da realidade contemporânea. Esse modo de ser aliou-se, desde o seu tempo de professor na Universidade de Tubinga, com uma admirável ciência teológica e uma cultura humanística que o levaram a ser considerado como um dos principais intelectuais de nossa época.

Sobre estas inegáveis qualidades humanas, unidas a um espírito sempre voltado para o sobrenatural, paira, porém, algo mais elevado e decisivo: a assistência do Espírito Santo, que se derrama em abundância sobre o sucessor de Pedro.

Todas estas circunstâncias são fundamentais para se interpretar a renúncia de Bento XVI ao Papado e não podem, de modo algum, ser postas de lado ao analisá-la, sob pena de se incorrer em comentários frívolos, injustos ou fantasiosos.

Além do mais, as razões desse ato não são segredo. Elas foram claramente expressas no Consistório Público do dia 11 de fevereiro e repetidas em ocasiões sucessivas. Bento XVI renuncia, explicou no início da Audiência Geral de 13 de fevereiro, “para o bem da Igreja”.

Haverá outros motivos que Bento XVI tenha considerado prudente não revelar? Terá influído nessa decisão alguma preocupação concreta sobre o rumo que poderia tomar doravante o seu pontificado? Querer dar uma resposta a tais perguntas é, a nosso juízo, uma temeridade, pois nossas cogitações podem não corresponder hoje à realidade dos fatos.

Enquanto isso, cabe-nos manifestar com ênfase um entranhado amor pelo Sucessor de Pedro e pensar, como ele, unicamente no bem da Igreja. Eram esses, sem dúvida, os sentimentos dos fiéis que acolheram com longas e calorosas ovações suas palavras na mencionada Audiência Geral, e durante a Santa Missa desse mesmo dia. Igual reação tiveram os sacerdotes da diocese de Roma ao serem recebidos pelo Papa no dia seguinte, na Sala Paulo VI.

“Tanto quanto o Céu domina a Terra, tanto a minha conduta é superior à vossa e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 9), diz o Senhor pela voz do Profeta. Bento XVI bem poderia fazer suas essas palavras , na presente conjuntura.

O fato é que, para além do operar dos homens, devemos considerar com toda a confiança o futuro da Igreja. Ela é “a árvore de Deus que vive para sempre, a portadora da eternidade e da verdadeira herança: a vida eterna” (Lectio Divina no Pontifício Seminário Romano Maior, 8/2/2013).

Editorial – Revista Arautos do Evangelho, nº 135, Mar/13

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte IV)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

.

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva”

Os santos são sempre enfáticos e unânimes ao se referirem ao papel de Nossa Senhora como nossa intercessora e nunca haverá o caso de algum santo (canonizado pela Igreja ou não) que não tenha sido propagador incansável da Devoção à Maria Santíssima.

Como refere São Luís Maria Grignion de Montfort, ter uma verdadeira devoção a Nossa Senhora é “sinal infalível e indubitável” de salvação e de santidade(1)

Estes comentários à Salve Rainha, têm sido escritos, por pura Graça da Providência divina, com a ajuda inestimável das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, São Luís Maria Grignion de Montfort e outros destacados santos e autores marianos, além do precioso Catecismo da Igreja Católica.

Quem sabe, quando estivermos todos reunidos no Céu (ardentemente imploramos a Nossa Senhora a Graça de lograrmos êxito), pois para isso fomos criados(2), quem sabe! poderemos pedir a esses santos que nos façam um “Simpósio” (de no mínimo 1.000 anos de duração!), apenas para nos explicar a oração da Salve, Rainha. Já pensaram? Se quando ainda viviam no mundo, quando aqui ainda estavam “degredados”, esses santos doutores já tinham palavras angelicais para nos formar nessa devoção, como será agora que estão no céu, na visão beatífica, quando podem ter a graça de pedir diretamente à Santíssima Virgem que lhes esclareça, que lhes explique, que lhes mostre, enfim, todos os esplendores desta magnífica devoção? “Ó altura incompreensível! Ó largura inefável! Ó grandeza incomensurável. Ó abismo insondável”(3).

Cerro Torres – Argentina (Foto: Patrícia Alarcón)

Esse pensamento deve nos animar no caminho da santidade, deve nos confortar para carregarmos a nossa cruz com alegria, renovar a nossa esperança na intercessão de Nossa Mãe Santíssima.

Tem-nos feito companhia, também, com seus escritos, nestas meditações, o Monsenhor João Clá Dias, fundador dos Arautos do Evangelho, ele mesmo, um ardoroso e incansável propagador da Devoção à Nossa Senhora, com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior, as quais, de modo atraente e acessível, exaltam as grandezas da Mãe de Deus.

Nesta invocação, pedimos o auxílio de Nossa Senhora, na condição de filhos “degredados de Eva”. Para bem meditarmos sobre o alcance desse pedido, em primeiro lugar devemos refletir sobre a dureza do exílio.

Talvez muitos de nossos leitores já tenham experimentado a sensação de viver por um período no exterior, numa terra estranha. É comum muitas pessoas partirem para outros países, buscando melhores condições de vida; em geral viajam sós, deixando atrás de si filhos, esposa ou esposo, pais, mães, amigos. Às vezes esperam por anos a fio o momento em que a situação melhore e que a família possa se reunir novamente. Às vezes isso acontece; às vezes, não. Há alguns anos atrás, muitos brasileiros viajavam para lugares distantes: Japão, Europa, etc., em busca de uma vida melhor. Hoje em dia são os bolivianos, os haitianos, etc., que vem para o Brasil, em busca de oportunidades. Quanto desacerto, quantas dificuldades, quantas tristezas podem resultar desse exílio! Uma cultura estranha, uma língua desconhecida, sem amigos, sem apoio da família, enfim, uma vida de sofrimento material e espiritual.

Poderíamos mencionar ainda, os exilados involuntários, o exílio da prisão, o exílio da solidão, das doenças, etc.

A própria Sagrada Família, ao obedecer à voz do Anjo, partiu para o Egito, fugindo de Herodes. Podemos imaginar a angústia e o sofrimento de S. José nessa empreitada, sempre buscando obedecer em primeiro lugar a Deus, ao mesmo tempo em que buscava proteção para a Virgem e o Menino. (Cf. Mt 2, 13-15).

Estamos todos numa terra de exílio

Ora, “degredados” significa “desterrados”, “exilados”. E este é justamente o estado em que nos encontramos todos, nesta terra de exílio, a caminho de nossa pátria definitiva. Nosso lugar é o Céu e para lá nos dirigimos. Com muita propriedade, Santo Agostinho, resume a inquietude de nossa natureza em busca do Divino, escrevendo: “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós”.(4) Portanto, “degredados” somos, enquanto não atingirmos nosso último destino.

Eva e Adão

Enquanto vivemos nesta terra, nós, como verdadeiros “filhos de Eva”, necessitamos constantemente da Graça Divina, pois, sem esse auxílio eficaz e vigoroso, não somos capazes, por nós mesmos, de progredir e continuar trilhando o caminho do Céu.

Filhos de Eva, expressão que nos lembra a nossa condição de “implicados no pecado de Adão”(5), pois, como consequência do pecado cometido pelos nossos primeiros pais, também nós perdemos a santidade na qual o gênero humano foi inicialmente criado. “Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana”(6), que passa a ter “inclinação para o mal e para morte”(7). Complementa Santo Afonso: “Como pobres filhos da infortunada Eva, somos réus da mesma culpa e condenados à mesma pena. Andamos errando por este vale de lágrimas, exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem no corpo e no espírito”(8)

Bradamos, portanto, o auxílio da graça, pela intercessão de Maria Santíssima. “Bradar!”, muito mais do que simplesmente pedir; nós pedimos em alta voz, como que, “aos gritos”.

Bradamos o auxílio de Maria porque Ela também conhece o que é o exílio. Não apenas por que, com São José exilou-se no Egito (como já referido acima), mas, sobretudo, após a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, permaneceu ainda na Terra por muitos anos, para confirmar e ajudar a Igreja nascente, embora em seu coração desejasse mais do que tudo unir-se a seu Divino Filho, no Céu. Quantos anos permaneceu Nossa Senhora exilada antes de subir ao Céu? “A Tradição nos diz que a Virgem Maria permaneceu longo tempo na Terra depois da Ascensão de seu Divino Filho, cerca de vinte e três anos, reunindo, na vida mais resignada e humilde, o tesouro de méritos cujo prêmio havia de gozar (…). Chegada aos setenta e dois anos, o anúncio de seu fim interrompeu o silêncio de sua existência”(9)

Brademos, portanto, com confiança o auxílio de Nossa Mãe Santíssima, enquanto nos encontrarmos nesta terra de exílio.

Nossa Senhora do Desterro, rogai por nós!

Por Prof. João Celso

Na próxima parte:

A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”

1)São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. p.36
2) Catecismo da Igreja Católica. 10ª. Ed. S. Paulo: Loyola, 2000. P. 36
3) São Luís Maria G. de Montfort, Op.cit., p. 20
4)Santo Agostinho. Confissões. 9ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1988. P. 23
5)Catecismo da Igreja Católica, Op. cit. n. 402
6) Ibidem, n. 404
7) Ibidem. N. 403
8)Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Editora Santuário, 1989 P. 113.
9)Monsenhor João Clá Dias, EP. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2ª. Ed. São Paulo: ACNSF/Loyola, 2011. p. 153

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O Ano da Fé e a virtude da Esperança

Este Ano da Fé nos traz uma riqueza de considerações e nos remete para o estudo e a contemplação das maravilhas do tesouro da nossa Fé, acompanhadas, sem dúvida, de muitas e escolhidas graças da Providência divina – próprias às celebrações e à vida litúrgica propostas pela Igreja – que transcendem ao intelectual e nos mobilizam a uma vida cristã impregnada de virtudes. E entre estas, sobremaneira, a fé irmanada com a caridade.

Com efeito, sabemos que as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – são aquelas que “se referem diretamente a Deus”, “dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto”.(1) Ora, podemos perceber, sem muita dificuldade, o estreito relacionamento entre estas duas virtudes teologais: fé e caridade.(2) Como nos ensina São Paulo em sua Carta aos Gálatas, “a fé age por meio do amor” (Gl 5, 6)”. Em outros termos, a fé é animada pela caridade e, quando crescemos no amor a Deus e ao próximo, crescemos necessariamente na fé.

Isto posto, poderíamos indagar: além deste substancial relacionamento entre a virtude da fé e a virtude da caridade, haverá alguma relação entre a fé e a outra virtude teologal, que é a esperança? Qual a relação entre a fé e esperança?

Esperança e confiança nas promessas de Cristo

Consideremos a definição que nos apresenta o Catecismo da Igreja Católica sobre a esperança: “A esperança é a virtude pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo”.(3) E fundamenta com as palavras de São Paulo aos hebreus: “Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (HB 10,23).

A esperança nasce da fé

Ora, quem fez a promessa é Deus, e Ele é fiel! Assim, uma vez que pela graça temos fé, ou seja, cremos em Deus, temos conseqüentemente a confiança, a esperança fortalecida por sólida convicção,(4) de que Ele nos atenderá em tudo quanto seja necessário para nossa salvação (seja do ponto de vista espiritual, seja material). Portanto, “a esperança nasce da fé; nós esperamos de Deus os bens prometidos por ele, porque a fé nos ensina que Deus é infinitamente fiel, poderoso e bom, e que Jesus nos merece todos esses bens”, conforme nos explica o professor Spirago.(5)

Tal é a íntima relação entre fé e esperança, que São Paulo aos hebreus assim se expressa: “A fé é a posse antecipada dos bens que esperamos” (Hb 11, 1).

Os exemplos arrastam: a fé e a esperança da mulher Cananéia

A Cananéia aos pés de Jesus (iluminura do Livro das Horas do Duc de Berry)

O conhecimento teórico destas virtudes e seu entrelaçamento é útil, porém, não basta: “as palavras comovem, os exemplos arrastam”. E por isto, vale a pena contemplá-las – e imitá-las – nos bons exemplos dos que o vivenciam e nas histórias narradas nas Sagradas Escrituras e na vida dos Santos.

Entre estes, fato eloqüente é o narrado Evangelho de São Mateus (Mt 15, 21-28), sobre a Mulher Cananéia, comentado por Mons. João Clá, Fundador dos Arautos, em que diz: “Tudo se obtém pela Fé!”.(6)

Sobre a mulher Cananéia, que pedia a Jesus a cura de sua filha, atormentada cruelmente pelo demônio, observa Mons. João Clá: “A Cananéia não teve medo de ser importuna, nem esmoreceu um só momento em seu ânimo e em sua Fé. O que realmente desejava era obter a cura de sua filha”. E porque não esmoreceu na Fé, ela esperava, com toda a confiança, que Jesus lhe concedeu a cura da filha.

Ademais, a sua Fé em Jesus, era ativa, pois ela “ouviu e se informou a respeito dos atos e das pregações de Jesus”. “Isso lhe foi fundamental para crer”. E aqui temos mais um exemplo: “a necessidade de nos instruirmos sobre a verdadeira e boa doutrina”. “Um grande mal de nossos dias, a ignorância religiosa, talvez seja a principal causa dos dramas atuais”.

Por fim, conclui Mons. João: “O conhecimento enaltece a Fé, torna robusta a Esperança dos bens eternos e atrai à prática da Caridade, quer no amor a Deus, quer no amor ao próximo”.

Eis aí, a esplêndida e íntima relação da Fé com a Esperança e a Caridade. E bem podemos entoar o Hino da Liturgia das Horas:

“Na em Deus, por quem vivemos,

Na esperança do que cremos,

No dom da santa caridade,

De Cristo as glórias entoemos”.(7)

[destaque nosso]

(1) Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 488, n. 1812.
(2) Um elemento fundamental para bem vivermos o Ano da Fé: a caridade. Disponível em: http://maringa.blog.arautos.org/2013/02/um-elemento-fundamental-para-bem-vivermos-o-ano-da-fe-a-caridade/ – Acesso em 08 mar 2013.
(3) Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 489, n. 1817.
(4) Padre Thomas de Saint Laurent. O Livro da Confiança. S. Paulo: Artpress, s/d. p. 15.
(5) SPIRAGO, Francisco. Catecismo Popular. 2ª ed. Guarda: Typ. da Empresa Veritas, s/d., p. 252 (Primeira Parte do Catecismo).
(6) CLÁ DIAS, EP. Mons. João Scognamiglio, Tudo se obtém pela Fé! In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 44, pp 6-11, ago. 2005.
(7) Liturgia das Horas: Segundo o Rito Romano – II – Tempo da Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo da Páscoa. Vozes – Paulinas – Paulus – Editora Ave Maria, 2000, p. 37.

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Devoção a Nossa Senhora – Comentários à Salve Rainha – (Parte III)

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia,

vida, doçura e esperança nossa, salve!

A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei.

E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Vida, doçura e esperança nossa, salve!”

Implorando à Nossa Mãe Santíssima que nos conceda graças especiais, vamos avançando na meditação desta magnífica oração da Salve, Rainha, objetivando que ela seja rezada com devoção cada vez maior e que constitua para cada um em particular um doce hino de louvor prestado à Rainha do Céu e da Terra.

Nas invocações desta segunda frase, a Igreja nos convida, em primeiro lugar, a chamarmos nossa Rainha de vida. Sendo assim, consideremos o significado desta invocação. Quando começa, de fato, a nossa “vida”? Em termos naturais, pode-se afirmar que a vida começa no momento da concepção, embora correntes não-católicas queiram considerar que a vida se inicia apenas em certas etapas do desenvolvimento do embrião ou feto, ou mesmo, apenas no momento efetivo do nascimento da criança. Com efeito, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção”(1)

Porém, muito mais importante que o começo de nossa vida natural, física, é o início da nossa verdadeira vida (no sentido mais pleno da palavra, sob o ponto de vista católico), que começa no momento de nosso Batismo, o qual para nós “é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da qual brota toda a vida cristã”(2). Se compreendermos, portanto, que a verdadeira vida vem da graça de Deus, e que Maria Santíssima é a Mãe da Divina Graça, fica fácil compreender por que a Igreja nos recomenda chamá-la, nesta oração, de vida. Muito claramente trata Santo Afonso de Ligório a respeito deste ponto:

“Para a exata compreensão da razão por que a Santa Igreja nos ordena que chamemos a Maria nossa vida, é necessário saber que, assim como a alma dá vida ao corpo, assim também a graça divina dá vida à alma. Uma alma sem a graça divina só tem nome de viva, mas na realidade está morta (…) Obtendo Maria por meio de sua intercessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá vida”.(3)

Ou seja, uma pessoa que esteja privada da graça da Deus, não tem em si a vida verdadeira; tem apenas uma aparência de vida. Portanto, se tivermos a infelicidade de pecar ofendendo a Deus gravemente, perdendo a vida da graça em nós, rapidamente procuremos o Seu perdão, para recobrar a vida plena. Como nos ensinam os santos, procuremos Maria, para que Ela nos obtenha de volta a nossa vida, que é Jesus Cristo!

Além de nos obter de volta a nossa vida quando pecamos, Maria Santíssima também nos obtém a graça da perseverança: mantém acesa em nós a chama da vida da graça.

Maria Santíssima é também nossa doçura.

No Tratado da Verdadeira Devoção, S. Luís comenta que “nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós” (4), portanto ao fazermos um sério e rigoroso exame de consciência, ao analisarmos detidamente como tem sido nossa vida até hoje, reconhecemo-nos inteiramente necessitados do perdão e da misericórdia de Deus. Por vezes, pode assaltar-nos um sentimento de temor diante de nossas misérias e pecados. Qual será nosso destino eterno se não nos convertermos verdadeiramente? A vista da sentença do juiz e do grave “apartai-vos de mim” (cf. Lc 13,27) pode – e deve – fazer-nos tremer de pavor.

Mas, qual não deve ser o nosso consolo, a nossa confiança, ao pensarmos na doçura de nossa Mãe Santíssima, que intercede por nós junto ao Juiz, que é seu próprio Filho? Como auxílio de Maria, nada devemos temer, pois é Ela “perfeitamente afável, doce, misericordiosa e condescendente para que aqueles que A invocam. A esta Mãe clementíssima devemos o fato de haver suavidade em nossa vida. Ela nos obtém a graça divina e, portanto, forças para a prática da virtude. Ora, a virtude é o que há de doce no existir humano. Sem ela, nossa vida seria amarga e sinistra. Assim, Nossa Senhora é a doçura que, proporcionando-nos a virtude, confere suavidade à nossa existência terrena”.(5)

Esperança nossa, Salve!

Muitas vezes nos decepcionamos por colocar a nossa esperança nas criaturas. Em geral temos muitos amigos, mas, infelizmente a maioria deles costuma desaparecer nas horas de dificuldade e, repentinamente, nos vemos sozinhos diante de nossos problemas, sejam eles de qualquer natureza: doenças, problemas na família, problemas financeiros, etc. “Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e desventuras. Os amigos do mundo não deixam o amigo, enquanto está em prosperidade. Mas o abandonam imediatamente, se lhe acontece uma desgraça ou dele se avizinha a morte”(6)

Felizes, portanto, aqueles que põem a sua esperança na intercessão de Maria Santíssima! Ela “não é uma esperança nossa; Ela é a esperança nossa. E esperança tal que, só por causa dEla, nossa existência se torna doce e suportável. Mãe de misericórdia, Ela é a vida, a doçura e a grande esperança dos degredados filhos de Eva”.(7)

Encerremos com Santo Afonso de Ligório:

Motivo tem, pois, a Igreja em aplicar a Maria as palavras do Eclesiástico (24,24), com as quais lhe chama a Mãe da santa esperança. Mãe que faz nascer em nós, não a esperança vã dos bens transitórios desta vida, mas a santa esperança dos bens imensos e eternos da vida bem-aventurada. Salve, esperança de minha alma, saudava-a S. Efrém, salve, é segura salvação dos cristãos, auxílio dos pecadores, defesa dos fiéis, salvação do mundo. Aqui pondera S. Boaventura que, depois de Deus, outra esperança não temos senão Maria e por isso a invoca ‘como única esperança depois de Deus’”(8).

Na próxima parte: “A vós bradamos, os degredados filhos de Eva”

1) Catecismo da Igreja Católica. N. 2270, p. 591
2) Ibidem, n. 1254, p. 349.
3) Santo Afonso Maria de Ligório. Glórias de Maria. 3ª. Ed. Aparecida: Santuário, 1989. P.. 74
4) S. Luís Maria G. de MOntfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Ssma. Virgem. 38ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. P. 82
5) Mons. João Clá Dias, EP. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. S. Paulo: Artpress, 1997. P. 310.
6) Santo Afonso de Ligório. Op.cit. p. 88
7) Mons. João Clá Dias, EP. Op.cit. p. 287
8) Santo Afonso de Ligório, Op.cit. p. 98
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