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São Tomás de Aquino: o segredo da sabedoria de um Santo

Celebra-se neste final de mês de Janeiro (dia 28) a memória de um dos santos da Igreja mais admirados e amados, considerado o arquétipo do homem que estuda, pesquisa e explicita as mais belas páginas da Filosofia e da Teologia; um varão tão santo e sábio que recebe inúmeros elogios de Papas, entre os quais, do Papa João XXII, que o canoniza em 1323 e do Papa São Pio V, que o proclama Doutor da Igreja em 1567. Atualmente é ele reconhecido por muitos estudiosos como o maior teólogo da História da Igreja.1 Quem é este sábio? Quem é este Santo? E a resposta nos vem sem maiores dificuldades: São Tomás de Aquino.

Tal o vôo de sua visão católica que, no Concílio de Trento, sobre a mesa da Presidência, foi a Suma Teológica deste santo colocada ao lado da própria Sagrada Escritura. O Papa Leão XIII, através da Enciclica Aeterni no ano de 1879, conclama “Ide a Tomás”, iniciando a era do Tomismo. E São Pio X recomenda às universidades católicas que adotem a Suma Teológica. Tantas são as referências elogiosas ao Doutor Angélico que – para não alongarmos – restringimo-nos apenas às palavras do Beato João Paulo II e do Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, respectivamente, a saber: “São Tomás foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer Teologia” e “Com seu carisma de filósofo e teólogo, São Tomás oferece um válido modelo de harmonia entre razão e fé”.2 Realmente, a doutrina e sabedoria deste grande Santo é própria a ultrapassar os séculos.

Ao contemplarmos as maravilhas do “angélico” doutor da Igreja, poderíamos nos perguntar: de onde vem tanta sabedoria, quer do ponto de vista natural, quer do ponto de vista sobrenatural, de São Tomás? E poderemos encontrar a resposta nas próprias palavras do Santo, quando recebeu a Sagrada Comunhão no derradeiro momento de entregar sua alma a Deus:

Eu Vos recebo, preço do resgate de minha alma e Viático de minha peregrinação, por cujo amor estudei, vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Tenho escrito tanto, e tão freqüentemente tenho discutido sobre os mistérios da Vossa Lei, ó meu Deus; sabeis que nada desejei ensinar que não tivesse aprendido de Vós…”.3

“Aprender de Vós”: uma lição para nossos dias

Aprender de Vós”… Sim, aprender de Jesus Eucarístico. São Tomás se acercava freqüentemente do Santíssimo Sacramento e recorria a Ele obtendo as luzes e respostas para seus estudos e chegou a afirmar que aprendera mais junto ao Sacrário do que nos longos dias dedicados ao estudo. Além de santificar, a Sabedoria eterna e encarnada, real e verdadeiramente presente na Eucaristia, “inteligentifica” a todos que dela fervorosamente se aproximam, analogamente como os raios do astro rei, o Sol, aquecem aos que a ele se expõem.

Eis aí o segredo incomparável, para nossos dias, de desenvolvermos, à maneira de São Tomás de Aquino, nossa inteligência e alcançarmos a santidade: a freqüência assídua a Jesus Sacramentado. Que ele nos obtenha, pela intercessão de Nossa Senhora, esta graça.

(1) CAVALCANTI NETO, Lamartine de Holanda. Psicologia geral sob o enfoque tomista. São Paulo: Instituto Lemen Sapientiae, 2010, p. 15.
(2) CLÁ DIAS, Pe. João Scognamiglio, EP. Por que ser tomista? In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 73, pp 36-39, jan. 2008.
(3) FERREIRA, Carmela Werner. O sábio mais santo e o santo mais sábio. In Arautos do Evangelho. São Paulo, n 73, pp 32-35, jan. 2008.

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Minha Mãe, minha confiança!

No local escolhido para fazer as imagens, Alphaville (São Paulo), três aquecedores mantinham a temperatura ambiente entre 28 e 30 graus e um aparelho reproduzia o som de batimentos cardíacos…”.

Assim a revista Veja São Paulo1 relata a preparação do ambiente para que um bebê de apenas 12 dias de idade faça, não um delicado exame ultrassonográfico, como alguém, de maneira apressada e angustiante poderia pensar, mas, um ensaio fotográfico! que irá registrar os primeiros dias de vida do pequeno Danilo. Informa ainda a matéria que “outras famílias paulistanas vêm investindo em produções semelhantes”; enfim, a reportagem dá conta de todo um arsenal à disposição dos pais – para que a vida de seus filhos seja, desde cedo, fartamente documentada para a posteridade. Muito longe vão os tempos em que os pobres pais podiam apenas dispor de uma ou outra foto de seus filhos; por exemplo, a famosa foto escolar do 4º ano primário.

É claro que toda essa facilidade tecnológica – e até um certo modismo – podem levar pais (e avós!) a darem importância demasiada a fatores não essenciais, negligenciando a atenção psicológica e, principalmente religiosa que seus filhos merecem. Há pais, por exemplo, que por questões meramente materiais, adiam por vários meses a cerimônia de batismo dos filhos, privando-os de se tornarem o quanto antes “criaturas novas, filhos adotivos de Deus, participantes da natureza divina, membros de Cristo e co-herdeiros com Ele, templos do Espírito Santo2. E esse atraso injustificável se pauta no desejo (legítimo, mas dispensável) de querer tornar ainda mais grandiosa uma cerimônia que de si já é extraordinária; assim a festa, a contratação dos fotógrafos, as roupas, etc. passam a ocupar o primeiro lugar, numa lamentável inversão de valores.

Mas, voltemos ao pequeno Danilo, já fotografado em tantos detalhes na tenra idade de doze dias: É inteiramente possível imaginar quanta alegria proporcionará a seus pais e aos que estiverem ao seu redor durante os seus primeiros anos de vida. De fato é irresistível a felicidade de conviver com uma criança inocente. Quem não se encanta aos vê-las dando os primeiros passos, pronunciando as primeiras palavras? Por exemplo, a Beata Zélia Guérin, num arroubo de contentamento pela doçura de sua filhinha, a então pequenina Santa Teresinha do Menino Jesus, assim se expressa: “Há alguma coisa de tão celestial em seu olhar que ficamos encantados!…”3 É esta a vitalidade da inocência infantil.

Por outro lado é também digno de nota – e explicável apenas sob a perspectiva da inocência – a confiança sem restrições ou limites que os pequenos depositam em seus pais. Traz-nos uma sensação de paz e é nos aprazível ver uma criança pequena tomando as mãos de sua mãe para atravessar uma rua ou andar pela calçada de uma cidade às vezes freneticamente tomada por movimentos de carros, pedestres e todo tipo de perigo… Facilmente vemos a total despreocupação e a elegante indiferença dessa criança em relação ao ambiente que a rodeia: Estando entrelaçada às mãos da mãe (ou do pai, da avó…), ela se deixa conduzir com total naturalidade, navegando tranquila em seu mundo de inocência e candura.

Em outro ambiente e em um tempo muito diferente do nosso, a própria Santa Teresinha, com a santidade de quem conservou por toda a vida as graças primaveris do Batismo, relembra, docemente, os pequenos passeios que quando criança, fazia com seu querido pai, o seu “Rei”: “Todas as tardes ia dar pequenos passeios com papai; fazíamos juntos uma visita ao Santíssimo, visitando cada dia uma nova igreja”4.

Vendo essas cenas que mesclam confiança e inocência, não há um adulto sequer que não se comova e não se deixe envolver por uma atmosfera de pleno encantamento. Um verdadeiro descanso nas agitações cotidianas.

Certamente, assim também deve ser a nossa confiança na intercessão e no cuidado que tem por nós Maria Santíssima.

Sem as vantagens indescritíveis da inocência infantil, tendo já há muito abandonado ou perdido, nas palavras do poeta, as “asas brancas, asas que um anjo me deu”5 e já não podendo voar ao céu, estamos nós continuamente envoltos em desafios e dificuldades, perante angústias e problemas de todo o tipo que nos parecem intransponíveis. Nessas ocasiões, infelizmente, buscamos resolver as coisas a partir de nossa própria capacidade e nos esquecemos de estender a nossa mão e procurar o auxílio da Mãe de Misericórdia, da Consoladora dos Aflitos que, como nas Bodas de Caná está atenta, vigilante e pronta para nos atender em tudo o que precisarmos. Se não somos mais crianças inocentes, devemos ser adultos de fé.

Terminamos esta reflexão tomando as belas palavras de Santo Afonso de Ligório, em seu majestoso livro Glórias de Maria;6 por meio delas, dirigimos a nossa Mãe Santíssima uma oração pedindo que a nossa confiança em sua misericórdia para conosco seja sempre renovada:

   …………….É terníssimo o amor que ela consagra a todos os homens, mesmo os mais infelizes pecadores, quando lhe conservam algum afeto ou devoção. (…) Na qualidade de amantíssima advogada nossa, oferece a Deus as preces de seus servos; pois, como o Filho intercede por nós junto ao Pai, assim ela intercede por nós junto ao Filho. Não se cansa de tratar com o Pai e com o Filho o sério assunto da nossa salvação. Singular refúgio dos perdidos, esperança dos miseráveis e advogada de todos os pecadores que a ela recorrem”.

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

1 Revista Veja São Paulo. 17 de outubro de 2012, p. 49
2 Catecismo da Igreja Católica. P. 351.
3 Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Obras Completas. Ed. Loyola, 1997, p. 90.
4. Idem. p. 94
5 Almeida Garret (1854) . As minhas asas.
6 S. Afonso de Ligório. Glórias de Maria. Aparecida-SP: Ed. Santuário, 3. Ed. p. 160

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O Ano da Fé e o estudo frutuoso da Doutrina Católica

Conforme os dias passam e para muitos as férias vão se esvoaçando, começam estes já a pensar – além do trabalho – nos estudos, cursos ou graduações que terão que empreender. E certamente esta labuta intelectual absorverá boa parte do tempo diário de cada um. Não poucas são as áreas do conhecimento que requerem atenção, dedicação e pesquisa no aprendizado. Porém, para além do aspecto meramente utilitário que as várias áreas a serem estudadas para esta vida terrena concorrem, há uma que transcende em importância e cumpre, portanto, não ser esquecida – ter-se-ia vontade de dizer, nunca olvidada: o estudo da Doutrina Católica. Este, aliás, é um meio por excelência que Deus dá ao homem para que possa crescer no seu conhecimento e alcançar a felicidade tão almejada, não só possível nesta terra, mas completa na eternidade.

Com efeito, admoesta a Igreja que o ensino e aprendizagem da Doutrina Católica (constituída das quatro partes: o Credo, a Oração, os Mandamentos e os Sacramentos) é uma necessidade fundamental na vida dos católicos1. Para que possam atender a este conselho, Ela, como Mãe solícita e Mestra infalível, franqueia a seus filhos a possibilidade de aprender e meditar sobre as verdades reveladas a respeito dos mistérios de Deus e das verdades religiosas e morais que ultrapassam o nosso entendimento, concorrendo assim para uma verdadeira educação para a fé.

A consideração sobre a importância de se manter esse contato vivo com a Doutrina Cristã e as verdades de nossa fé católica adquire uma atualidade especial, providencial mesmo, ao considerarmos as palavras cheias de ardor do nosso Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, expressas por ocasião da Celebração Eucarística na Basílica do Vaticano, ao anunciar o Ano da Fé:

            “Desde o princípio do meu ministério, como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: “A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude”.2.

Ao apontar para este divino objetivo da redescoberta do caminho da fé, o Sumo Pontífice, acentua-lhe a oportunidade, ao considerar a crise de fé que atingiu muitas pessoas:

            “Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as conseqüências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas freqüentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade…”.

                Em face desta crise de fé, indica o Santo Padre “o quanto o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé” e consistirá em um “convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”4

Por tudo isto, vê-se como é benfazejo e de que maneira podemos nos beneficiar das graças que a Providência nos prepara neste Ano da Fé, seja para nosso bem espiritual pessoal, seja para o bem que façamos ao próximo, se nos debruçarmos no estudo dos conteúdos essenciais e fundamentais de nossa fé, contidos principalmente no Catecismo da Igreja Católica, nos escritos dos Santos Padres e no Magistério da Igreja.

Quem sabe, colocaremos como uma das metas, desde já, a leitura e o estudo do Catecismo e das verdades da fé, durante uns 15 a 30 minutos diários. E quando soar o final deste Ano da Fé no dia 24 de novembro de 2013, na Solenidade de Nosso Senhor Cristo Rei, poderemos nos dirigir, agradecidos, a Nossa Senhora da Gratidão, por tudo quanto contemplamos das maravilhas da nossa Fé.

E para que esta dedicação ao aprendizado da Doutrina Católica, sob as bênçãos da Providência Divina, tenha todo o seu desenvolvimento e concorra para a nossa santificação, cumpre realizá-lo não com espírito meramente especulativo, mas com verdadeiro amor, pois, como diz o Catecismo Romano, em seu prefácio:

Nossa Senhora Rainha da Sabedoria

Nossa Senhora Rainha da Sabedoria

Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que não acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que é preciso crer, esperar ou fazer; mas sobretudo é preciso fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o Amor, e outro fim senão o Amor.5

Queira este Ano da Fé seja carregado, pelos rogos da Mãe da Sabedoria, de esplêndidas graças de estudo amoroso da doutrina católica e das verdades da fé.

 
 
 
 
(1) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 12.
(2) Carta Apostólica “Porta Fidei” – Ano da Fé.
(3) Idem – Carta Apostólica “Porta Fidei – Ano da Fé
(4) Idem – Carta Apostólica “Porta Fidei – Ano da Fé
(5) Catecismo Romano, prefácio in Catecismo da Igreja Católica. 11ª ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2011, p. 18.

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Os bons propósitos de Ano Novo e a Virtude da Prudência

Pululam no início de cada ano mensagens e e-mails que, gratuitamente apregoam generosos conselhos e dicas para o ano novo: procuram convencer seus leitores a mudar de vida, estabelecer metas e bons propósitos para o ano que se inicia. Algumas mensagens trazem recomendações muito práticas e objetivas, como, “alimente-se melhor; faça exercícios físicos”, outros trazem avisos bem óbvios, do tipo “não desperdice sua energia com fofocas”… outros bem abstratos: “Sonhe mais!” outros, ainda, trazem indicações bem mais teóricas e um tanto inatingíveis: “Não tenha pensamentos negativos”… E por aí vai.
Porém, todos esses conselhos e essa imensidade de mensagens de cunho otimista – que marcam e consagram a chegada do ano novo – têm também um aspecto muito interessante e que vale a pena ressaltar: a necessidade de planejamento.

A atmosfera de mudança do calendário, por si mesma e certamente por uma graça própria que a Providência concede neste período, faz com que as pessoas pensem, organizem e escrevam uma série de “bons propósitos” para o ano novo.

A atitude de procurar vislumbrar as dificuldades e encontrar os meios de contorná-las é, sem sombra de dúvida, muito positiva e louvável. É semelhante à atitude do “homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha” (cf. Mt 7, 24). O planejamento é a rocha na qual assentaremos a nossa casa: sem ele, todos os bons propósitos ruirão como ruiria a casa construída na areia.

 

Seria ótimo que mais e mais pessoas procurassem adotar esse costume de fazer “bons propósitos” utilizando-se de um bom planejamento. E o que é o planejamento? Um professor de Administração poderia defini-lo como nada mais, nada menos que escolher os meios para chegar aos fins que temos em vista. Um exemplo bem simples e comezinho: A pessoa tem o propósito de chegar ao final do ano sem dívidas e com recursos financeiros disponíveis, com saldo positivo na conta corrente. Como atingirá essa meta? Precisará realizar ações que a levem a gastar menos do que irá ganhar. Ou, se não for possível diminuir os gastos, deve aumentar as receitas. Parece bem evidente. Porém, sem planejamento (meios para chegar aos fins), esse propósito será inócuo, vazio, sem sentido. Será letra morta e, ao final do ano, apenas um sentimento de frustração é o que restará. Por quê? Simplesmente, por que o “bom propósito” não foi assentado sobre a rocha firme do bom planejamento.

Saindo da esfera meramente material e elevando nosso tema da terra para o Céu, podemos também perguntar: quantos católicos pensaram, organizaram e anotaram bons propósitos de vida espiritual para o ano novo? Certamente muitos, graças a Deus, inclusive nossos leitores. Entretanto é também necessário planejamento para colocá-los em prática e, assim, subir todos os degraus que o Divino Mestre quer ver alcançados por nós. Ele que, com amor e cuidado planejou o Céu e a terra e nos amou desde toda a eternidade.
E o que é o “planejamento”, na vida espiritual? É praticar a Virtude da Prudência.
E o que é a virtude cardeal da prudência?
Ad.Tanquerey define a prudência como “uma virtude moral e sobrenatural, que inclina a nossa inteligência, a escolher, em qualquer circunstância, os melhores meios para atingir aos nossos fins, subordinando-os ao nosso fim último”. O Catecismo da Igreja Católica traz uma definição na mesma linha: “A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1806).
Trata-se, portanto, de buscar os melhores meios para atingir aos nossos fins espirituais, ou seja, por em prática os nossos bons propósitos. Há, porém, uma distinção entre a prudência meramente humana e a prudência cristã. A prudência humana preocupa-se unicamente com os bens terrenos, sem subordiná-los ao nosso fim último, que é a vida eterna.

O Fundador dos Arautos do Evangelho, Monsenhor João Clá, comentando a parábola do administrador infiel, contada por Nosso Senhor no Evangelho de São Lucas, (cf. Lc 16, 1-13), distingue claramente a dificuldade que temos em ser prudentes quando se trata dos assuntos de nossa salvação. Destacamos os trechos abaixo :
“Não poucas vezes a falsa prudência sabe empregar manhas e artimanhas para obter os bens terrenos, mas não os eternos. Para ela, o fim justifica os meios. Fundamenta-se ela na sabedoria deste mundo e daí surgem equívocos como, por exemplo, o de querer construir edifícios eternos com o que não é senão passageiro”.
“Se tivéssemos robusta convicção a respeito de nossa vida post-mortem, o fim último de nossa existência, seríamos mais diligentes em aplicar os devidos meios para obter a perpétua felicidade”
E ainda, comentando sobre a estratégia do administrador infiel em garantir sua sobrevivência depois de ser demitido pelo patrão:
“Chama a atenção a pressa do administrador em atingir suas metas. Infelizmente, assim também somos muitos de nós, ou seja, elaboramos planos e com rapidez os realizamos para os fins a atingir neste mundo, mas tudo se torna difícil, e até insolúvel, quando o objetivo é a nossa santificação. Nosso fim último é supremo em relação aos outros, mas nem sempre lhe tributamos a importância devida. Quantos de nós não preferimos – bem ao contrário desse administrador – deixar para amanhã a realização de nossos propósitos de santidade?”

Encerrando, trata-se, portanto, de perseguir bons propósitos de vida espiritual para o ano novo, mas, cercá-los com a prática da Prudência Cristã.
Para ilustrar, tomemos um exemplo prático: a devoção do Santo Rosário. Um consagrado ou uma consagrada a Nossa Senhora, segundo o Método de S. Luís Maria Grignion de Montfort – e felizmente são muitos – pode colocar como propósito a oração diária do Rosário. E, de fato, esse seria um ramalhete de lindas rosas oferecido à nossa Mãe Santíssima durante o ano. Mas, é preciso determinar os meios: Como organizarei a minha vida cotidiana? Que horário irei reservar no meu dia para fazer essa oração contemplativa? Procurarei dedicar pelo menos algum tempo, na semana, no mês, para estudar a devoção do rosário, procurando obter os meios intelectivos para tornar essa prática mais eficiente para melhorar minha vida espiritual e aumentar meu amor ao próximo? E assim por diante. Buscar os meios para atingir os fins: Virtude da Prudência.
Procure saber mais sobre esta e outras belas virtudes cristãs e como a sua prática pode nos ajudar em nossa vida espiritual. Além do Catecismo da Igreja Católica e de bons autores católicos que tratam do assunto, você poderá pesquisar e estudar também através do site dos Arautos do Evangelho (www.arautos.org.br).
Que Maria Santíssima nos ajude para que este seja um ano de bons propósitos, cumpridos prudentemente!

Por Prof. João Celso – Arautos Maringá

1 A.D. Tanquerey. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1964, 6ª. Ed. Página 482

2 Monsenhor João Clá Dias, EP. A prudência da carne e a prudência santa. Revista Arautos do Evangelho, Set/2007, n. 69, p. 10 a 17. Cf.: http://www.arautos.org/artigo/4454/A-prudencia-da-carne-e-a-prudencia-santa

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O Rio Jordão e a santificação dos 4 elementos

Nestes dias em que muitos ainda se deslocam nas rodovias deste imenso Brasil, com vistas a desfrutarem das férias, sem dúvida impressiona a variedade geográfica do nosso País continente, seus aspectos tão diversificados, suas planícies, suas montanhas e, especialmente, seus rios abundantes.

Quem assim percorre na linha do Trópico de Capricórnio, partindo da Cidade Canção, para o pujante estado paulista – como se deu com os jovens Arautos de Maringá para participarem do “Curso de Férias”, em Caieiras, onde se situa a Basílica Menor de Nossa Senhora do Rosário -, transpõe em certo momento a divisa natural entre os estados do Paraná e São Paulo constituída pelo Rio Paranapanema. Ao transpô-la, não pode deixar de se sentir atraído pela beleza natural e impressionar-se com suas águas caudalosas, que se prolongam numa extensão de mais de 900 km. Realmente, um grande rio! Entretanto, muitos outros rios há, ainda maiores do que ele e, a este título, magníficos.

Porém, a grandeza e a beleza de um rio consistem apenas em ser de dimensões imensas, com águas superabundantes?

Amazonas, o rio da grandeza

De fato, há na História da Humanidade, outros rios, não tão extensos como um Rio Paranapanema – menos ainda como um Amazonas ou Nilo, mas que marcaram seu nome na História, porque neles se deram acontecimentos grandiosos, que nos remetem para horizontes grandiosos e até, divinos. E, talvez, não se encontre um rio tão mais grandioso do que aquele cujo Corpo adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo se deixou banhar e batizar pelo Precursor São João Batista. E aí se perguntará: haverá rio mais belo e grandioso do que o Rio Jordão, cujo esplendor se perpetua e se perpetuará pelos séculos?

Sim, o Rio Jordão. Contrariamente aos nossos dias, em que os rios e a natureza são tão “pestilizados” por uma poluição avassaladora e desrespeitosa da Obra da Criação, seria legítimo piedosamente imaginar o quanto, naquele momento “em que o Céu toca a terra”, suas águas ficaram mais belas, cintilantes, radiantes, com a dignificação nelas impregnadas por Aquele que é a própria Pureza em substância. Se máculas nelas houvesse sem dúvida foram expulsas e, “exorcizadas”; purificadas e santificadas sem sombra de dúvida o foram, quando nelas mergulhou o Deus Criador feito Homem.

Esta consideração nos remete para outra, um tanto diversa, mas consonante com ela, própria a alimentar em nós o amor e a gratidão incansáveis que devemos ter para com Nosso Senhor.

Com efeito, ao contemplarmos o Deus encarnado santificando as águas do Rio Jordão, e, portanto, o elemento água, constituinte da Criação, poderíamos nos perguntar: mas, quanto aos outros elementos, a terra, o ar e o fogo, não foram purificados pelo Salvador? A esta questão, baseando-se em Santo Tomás de Aquino e desdobrando sua doutrina, nos responde, de forma muito apropriada – dir-se-ia inédita – nosso Fundador, Mons. João Clá:

“Ora, se entrando no rio Jordão Jesus santificou as águas do universo inteiro, podemos afirmar, não sem fundamento, que, pisando a terra com seus pés sagrados e regando-a com seu Preciosíssimo Sangue no Calvário, Ele santificou toda a Terra; respirando e sendo elevado no madeiro sagrado, santificou de igual modo o ar. Finalmente, descendo Ele ao Purgatório, santificou também o fogo. Podemos assegurar, portanto, que os quatro elementos resumitivos do universo criado foram santificados pelo simples contato com Ele. Devemos, pois, ter sempre a noção clara de que a presença do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, neste mundo, mudou a face da Terra.” (O Inédito sobre os Evangelhos – 2012: Città del Vaticano, Libreria Editrice Vaticana e São Paulo, Instituto Lumen Sapientiae, vol. V, p. 169).

Sim, a presença de Nosso Senhor mudou a face da Terra. Ao considerarmos a purificação dos quatro elementos, água, ar, fogo e terra, não podemos deixar de pedir a Ele, pelos rogos daquela que é a Rainha do Céu e da Terra, que nos obtenha, sobretudo, a santificação de todos os homens, na face da Terra, por uma graça efusiva, prenunciada pelas suas proféticas palavras em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

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