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Marta e Maria: uma lição para a humanidade

Contemplação e ação, vida contemplativa e vida ativa. Duas expressões que nos trazem à mente ideias como oração, leitura e estudo, de um lado, trabalho e atividade de outro. Em graus diferentes, estas vidas são características que vemos presentes na generalidade das pessoas – não necessariamente religiosas: umas estudam mais, outras rezam mais, outras trabalham bem mais. Posto que “o homem é criado, para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor, e mediante isto salvar a sua alma”, conforme Santo Inácio ensina (1), poderíamos, então, perguntar: qual destas “vidas” vale mais? Qual delas é mais importante para alcançar tal finalidade?

Se alguém fosse responder precipitadamente, talvez se equivocasse. Diria ele: já que o homem tem que alcançar o Céu – portanto, santificar-se – deverá rezar e contemplar; o resto não tem importância.

Outro mais “despistado” poderia dizer: o que importa mesmo é trabalhar, pois ai daquele que não desenvolve seus talentos, o que não for trabalho é perda de tempo e poderia acrescentar: ademais, o próprio Apóstolo admoesta aos Tessalonicenses a imitarem o seu exemplo, em que trabalhou “com fadiga e esforço” e deu esta norma de “quem não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3, 8-10).

Esta questão – vida contemplativa e vida ativa – vem-nos à tona ao contemplarmos o episódio narrado por São Lucas sobre a conduta das irmãs de Lázaro, Santa Maria Madalena e Santa Marta (cujas memórias a Igreja celebra dia 22 e 29 de julho, respectivamente), ao hospedarem o Divino Mestre em sua residência.

Marta e Maria com Jesus – Basílica de Paray Le Monial, França

Conta-nos o evangelista que Jesus foi à casa em Betânia, daquela família amiga, para um repouso e descanso após longa viagem, com destino à Jerusalém. O que fizeram para acolher a Jesus – com seus Apóstolos e discípulos – que chegava?

As duas irmãs tiveram atitudes bem diversas: uma se pôs aos pés de Jesus, ouvindo embevecida as divinas palavras de Seu Senhor, ou seja, convivia admirativamente com Ele. A outra pôs-se na lida da casa, afadigando-se em preparar a comida e o que fosse necessário para bem atender ao divino hóspede e seus acompanhantes, em outros termos, trabalhava com eficiência.

Santa Maria Madalena – Igreja de St. Severin, França

Qual das duas terá agradado mais ao Senhor? Uma contemplava, a outra agia.

Para bem responder, melhor seria formular a pergunta de outra forma: o que faltou à Maria e o que faltou à Marta?

A esta questão nos responde Mons. João S. Clá Dias, apontando para o amor imperfeito de Maria: “O Divino Mestre diz que Maria escolheu a melhor parte [a contemplação], mas não afirma ter ela agido impelida pelo amor perfeito. Nosso Senhor é cioso da obediência devida às autoridades intermediárias e, portanto, deveria Maria ter se submetido às determinações de sua irmã mais velha, cumprindo as obrigações que lhe cabiam sem perder o enlevo, mantendo o coração todo posto no Senhor”. (2)

Santa Marta – Catedral de Bayona, França

Quanto à Marta, o Fundador dos Arautos do Evangelho mostra a preocupação naturalista da irmã de Maria: “sem ela se dar conta – como sói acontecer – essa louvável aspiração [o bom atendimento de Nosso Senhor] foi sendo substituída por uma preocupação naturalista, acompanhada pelo desejo de fazer bela figura diante d’Ele e dos demais. Se executasse todas aquelas tarefas pondo em Jesus a atenção principal, ficaria ela também com a melhor parte, os frutos de seu trabalho teriam outra beleza e outra substância. Não lhe era preciso, portanto, deixar suas ocupações para ir sentar-se com Maria, aos pés de Jesus, mas, segundo sublinha acertadamente Fillion, ter em vista que ‘o único necessário é preferir as coisas interiores às exteriores, dar-se a Cristo sem restrições, adorando-O, amando-O e vivendo só para Ele’”. (3)

Mas, então, com qual parte ficar: contemplação ou ação? A de Maria ou a de Marta? A quem imitar?

Com o amor de Maria e do modo exímio de Marta

Assim nos responde Mons. João S. Clá Dias: “Devemos imitar as duas irmãs: fazer todos os atos cotidianos com o amor de Maria, mas, como Marta, cumprir nossas obrigações de modo exímio. Porque a vida dos homens tem momentos de ação e de contemplação e, tanto em uns quanto nos outros, é preciso ser ‘perfeito como o Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48)”. (4)

Peçamos a Nossa Senhora do Divino Amor, juntamente com Santa Maria Madalena e Santa Marta, a graça de sermos perfeitos na contemplação e na ação, para glória de Deus e nossa própria salvação.

 Por Adilson Costa da Costa

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(1) Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. Tradução do Autógrafo Espanhol pelo P. Vital Dias Pereira, S. J. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1966, p. 27.

(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 236.

(3) Idem, p. 236

(4) Idem, p. 238

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Como ganhar a vida?

    Está em nossa natureza o desejo da felicidade. Sempre estamos, explicita ou implicitamente, buscando-a de alguma forma. Basta ser humano para se querer este ideal. E, certamente, quem a encontrou pode dizer que fez o grande negócio de sua vida, ou então, que ganhou a vida.

         Ora, mas quando é que se ganha a vida?

         Muitos dirão: Ah! Tendo muito dinheiro!

    Mas se pararmos para analisar aqueles que tiveram ou têm excelente situação econômica, poderíamos nos perguntar: todos eles foram ou são felizes? Muitos de nós, talvez, poderemos responder pela experiência da vida: não! Seja por casos de doença (como dizem: dinheiro não compra saúde), por problemas de relacionamento, seja o que for, o dinheiro não traz o que a vida não proporcionou, não se terá assim a felicidade completa.

         Alguém ainda poderia dizer: a felicidade está no prestígio, em ser aplaudido e ser bem visto. No entanto, quantos foram aqueles que num momento eram elogiados e ovacionados e, com o passar do tempo, foram desprezados ou esquecidos. Há casos também de pessoas muito aplaudidas pela sociedade, mas que por algum problema pessoal carregam grandes amarguras, muito bem dissimuladas perante o público, mas que algumas vezes acabam vindo à luz em desfechos trágicos.

         Bem, mas alguém também poderá dizer: pelo menos alcançam felicidade aqueles que têm os prazeres da vida. Aqui talvez seja mais evidente o desmentido da realidade. Vivenciamos um período histórico no qual uma “famosa” doença atinge a um número crescente de pessoas das mais variadas idades, entre essas, muitas emblemáticas e gozadoras da vida, que após seus momentos de euforia, na intimidade, têm como indesejável companheira a depressão.

         Mas então, como encontrar a felicidade?

Los Jerónimos- Lisboa, Portugal

Busquemos na sabedoria da Igreja, “tão antiga e tão nova” – adaptando os dizeres de Santo Agostinho – as luzes do Evangelho que possam iluminar as vias que nos conduzirão a uma felicidade especial, incomparável, que “nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam” (Mt 6, 20).

         Uma leitura cuidadosa do Evangelho de São Lucas mostrará um trecho luminoso a este respeito. Eis que, na contramão da avareza, das honras e prazeres mundanos, deparamo-nos com os Versículos 23-24, contemplados no XII Domingo do Tempo Comum, em que Nosso Senhor diz:

         “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23). Seguí-Lo para onde? Onde está Jesus? Ele se encontra agora “sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso” (1), em seu trono de glória, gozando da maior e mais perfeita felicidade, tão grande que não podemos concebê-la: a felicidade eterna! E continua:

         “Pois quem quiser ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).

         Portanto, atendamos ao convite de Nosso Senhor. Comentava estas divinas palavras, Mons. João Clá Dias: “[…] podemos ressaltar que, ‘ganhar a vida’ significa também ter uma existência pautada pelos Mandamentos, visando como objetivo a santidade. Em nossa época, na qual os homens pagam qualquer tributo para trilhar uma carreira brilhante e construir um nome de prestígio, lucraria muito quem meditasse nessa passagem […]” (2).

Virgen de la Asuncón – Catedral de Asunción,  Paraguay

Então caro leitor, se nós queremos “ganhar a vida” e, veja bem, nos dois sentidos da expressão, ou seja, alcançarmos a felicidade possível nesta terra e a eterna no Céu, sigamos o maravilhoso conselho, que vem acompanhado de uma promessa infalível, não feita por qualquer homem, mas pelo próprio Homem-Deus:

“Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentada” (Mt. 6, 33).

E assim teremos ganho, como Ele, a vida. Roguemos à Nossa Senhora a graça de seguirmos a Nosso Senhor,  nas vias da santidade, dos Mandamentos, alcançando a verdadeira felicidade.

Adilson Costa da Costa

(1) Catecismo da Igreja Católica. Artigo 6. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 1999, p. 189.

(2) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 173-174.

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