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A gratidão traz benefícios para a saúde

A gratidão é a mais frágil das virtudes. Entretanto, ela traz suas compensações. Em artigo no jornal francês Le Figaro do dia 14 de maio, o médico e jornalista Damien Mascret explica que um estudo feito com pessoas que sofrem insuficiência cardíaca demonstra que a gratidão faz bem para o coração.

O artigo descreve como o professor Paul Mills e outros especialistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, examinaram 186 doentes de insuficiência cardíaca em estágio primário, com 66,5 anos de idade em média, estudando a relação do sono, cansaço, indicativos biológicos, bem-estar espiritual, etc., com a gratidão. Além do acompanhamento através de exames médicos, os pacientes respondiam questionários com perguntas como “sou grato a muitas pessoas”, ou, “tenho muitas razões para ser grato na vida”.

O estudo mostra que nos mais gratos eram mais eficientes os tratamentos médicos. Rébecca Shankland, mestra de conferências da Universidade de Grenoble-Chambéry e autora do livro A psicologia positiva explicou: “A gratidão reduz a tendência ao materialismo e à comparação social e aumenta a empatia, o que gera relações de melhor qualidade”. Conclusão semelhante obteve outro estudo ao analisar o comportamento psicológico de policiais depois do furacão Katrina, em 2005, na Louisiana. A gratidão foi um dos parâmetros que atenuaram os sintomas de stress pós-traumático neles.

(Extraído da Revista Arautos do Evangelho, n. 163, Julho/2015)

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O que é a verdadeira gratidão?

Vivemos um momento no qual impera o individualismo, a busca incansável pela satisfação dos ímpetos, estando eles ou não em harmonia com o bem do próximo. A todo momento presenciamos relações que se estabelecem a partir de um juízo corrompido de valor: qual beneficio terei em fazer ou deixar de praticar tal ato?

Percebemos que o “eu” coloca-se no centro da vida e, em muitos casos, é cultuado enquanto única razão para a vida terrena. Neste sentido as virtudes, como por exemplo a gratidão, são meros conceitos abstratos em, quando muito, estão relegadas ao plano da conveniência social.

A partir desta realidade nos perguntamos: em que consiste a verdadeira gratidão?

De acordo com Mons. João Clá Dias, EP,  na obra “O inédito sobre os Evangelhos” (1), raras vezes interrompemos as ocupações cotidianas para considerar quantos bens nos são concedidos pela Divina Providência ao longo da nossa vida, ainda que não os tenhamos pedido ou sequer desejado.

Ao buscar a fonte de tais benefícios, devemos lembrar que não existiríamos sem um desígnio de Deus. A partir do nada, foi Ele constituindo a diversidade de seres, ao longo dos seis dias da criação, como está descrito no Gênesis, até modelar Adão do barro e Eva de sua costela, e neles infundir a vida. E cada nascimento, que ocorre a todo instante no mundo inteiro, é um fato extraordinário porque à lei física se acrescenta uma lei espiritual: Deus infunde uma alma inteligente, criada pelo simples desejo de sua vontade, num corpo concebido pelo concurso do pai e da mãe!

Imagem de Nossa Senhora de Fátima – Arautos do Evangelho

E tudo o mais – a saúde, o alimento, o repouso, o conforto – vem d’Ele, direta ou indiretamente. Além disso, o Criador nos promete para depois de transpor os umbrais da morte um grande milagre: tendo nossos corpos sofrido a decomposição, voltando ao barro do qual fomos feitos, retomaremos um corpo glorioso que se unirá de novo à nosso alma, já na visão beatífica, e gozaremos da felicidade de Deus por toda a eternidade.

Quanta bondade do Pai Eterno! Entretanto… como é a nossa resposta? Somos gratos por tudo quanto recebemos? Quão rara é a virtude da gratidão! Muitas vezes ela se pratica apenas por educação e meras palavras. Todavia, para ser autentica, é preciso que ela transborde do coração com sinceridade.

Mons. João Clá Dias, EP prossegue escrevendo que, além de dar-nos a vida humana, Deus nos concede o inestimável tesouro da participação na sua vida divina pelo Batismo e, mais ainda, nos dá constantemente a possibilidade de recuperar esse estado quando perdido pelo pecado, bastando para isso nosso arrependimento e a confissão sacramental.

Sobretudo, dá-Se a Si mesmo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade como alimento espiritual para nos transformarmos n’Ele, santificando-nos de maneira a nos garantir uma ressureição gloriosa e a eternidade feliz. Ele nos deixou sua Mãe como Medianeira, para cuidar do gênero humano com todo carinho e desvelo. Os benefícios que Deus nos outorga são, assim, incomensuráveis! Qual não deve ser, pois, nossa gratidão em relação a Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima?

Abraçar com entusiasmo e abnegação a santidade e batalhar com sempre crescente dedicação pela expansão da glória de Deus e da Virgem Puríssima na Terra, eis o melhor meio de corresponder ao infinito amor do Sagrado Coração de Jesus, que se derrama sobre nós às torrentes, do nascer do sol até o seu ocaso.

Eis em que consiste a verdadeira gratidão: servir com dedicação, amor e abnegação a Jesus Cristo e Maria Santíssima!

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(1) Mons. João S. Clá Dias, EP. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 403-413.

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O Samaritano por excelência: Jesus Cristo

Quando consideramos o próximo vem-nos a mente, já de início – e não sem razão, sobremaneira, por efeito do Batismo que recebemos – aquele que é carente de algum auxílio e em relação ao qual temos alguma proximidade, seja de ordem familiar ou física. E incluímos, nesta “categoria”, o pobre e o doente sem recursos financeiros. Estendendo nossa consideração, será também nosso próximo o necessitado para além do aspecto material, aquele que leva consigo algum sofrimento moral, muitas vezes mais doloroso do que o próprio sofrimento corporal.

E qual deve ser nossa atitude para aqueles que, precisando de auxílio material ou espiritual, passam por nossas vidas? A prática da caridade: “Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Gl 5, 14). Em outros termos, devemos fazer ao próximo tudo aquilo que esteja ao nosso alcance, da mesma forma que gostaríamos que fizessem conosco, postos nós em tal contingência.

Esta caridade manifesta-se na prática das obras de misericórdia, “ações caritativas pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais”, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC 2447). E continua o Catecismo: “Instruir, aconselhar, consolar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporal consistem sobretudo em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos”. (1)

Sagrado Coração de Jesus – St Mary’s Church – Kitchener, Canadá

Neste sentido, contemplemos o Evangelho do XV Domingo do Tempo Comum, no qual Jesus ensina, através de parábola ao doutor da Lei, no que consiste o amor ao próximo e, portanto, o verdadeiro sentido da Lei.  Conforme comenta Mons. João Clá Dias, EP, “Quantas escolas e cursos de didática se multiplicam por todo o orbe! Entretanto, é impossível superar aquela empregada pelo Divino Mestre em sua vida pública. A criação da figura do Bom Samaritano é simplesmente genial”. (2)

Sim, bem ao contrário do sacerdote e do levita da parábola, face ao pobre homem assaltado por um grupo de bandidos que o maltratam, deixando-o quase morto e o despojam de seus bens. Tanto o sacerdote quanto o levita, passam pelo desventurado agredido e, sem compaixão, não o socorrem ou tomam qualquer providência com vistas a fazer algum bem aquele sofredor.

No entanto, qual a atitude do samaritano? Assim observa Mons. João Clá Dias: “Bem diferente foi a reação do samaritano. Sem levar em conta o ódio racial que violentamente os separava, apesar de se tratar de um inimigo seu, sua religiosa incompatibilidade se transformou, no mesmo instante, em comiseração. O Evangelho recolhe os maravilhosos detalhes da divina parábola elaborada por Jesus para o doutor da Lei: “o samaritano se manifesta um herói da caridade desde o descer de sua montaria, aplicando in loco  todos os cuidados cabíveis naqueles tempos, conduzindo a vítima a uma pousada, até o contraiu uma dívida com o estalajadeiro, a fim de que este dispensasse todos os cuidados ao pobre judeu”. (3)

Eis a caridade, a misericórdia e a bondade belamente retratada por Jesus em relação ao próximo.

Aqui temos a manifestação do amor ao próximo. Para o Samaritano, o próximo foi aquele homem agredido, abandonado e estirado no chão, quase a morrer. Mas, poderíamos perguntar: existirá somente o próximo necessitado? Existirá, por ventura, algum outro próximo? Um próximo esquecido? Para o Samaritano, claro está que o próximo foi o homem de quem ele teve compaixão. Mas, qual será o próximo, na parábola, do homem socorrido? A resposta não poderá ser outra, senão esta: o próximo do homem socorrido foi seu benfeitor, o Samaritano.

Aí esta, em contrapartida e harmonicamente entrelaçado, o sentido do próximo genuinamente manifesto. Se há um próximo necessitado, há também um próximo benfeitor. Para o próximo necessitado devemos ter compaixão, eis como a caridade se manifesta. E para o próximo benfeitor, como deve se manifestar a caridade?

Poderemos responder, imaginando, na parábola, qual a caridade que o homem socorrido deveria ter para com o Samaritano. A resposta salta aos olhos, numa palavra: gratidão! Não poderá ser outra a não ser esta a atitude de amor ao meu próximo benfeitor: gratidão, reconhecimento e admiração para aquele que faz o bem, que me faz o bem.

Mãe do Bom Conselho – Genazzano, Itália

Peçamos a Nossa Senhora da Gratidão não nos esquecermos daqueles nossos próximos que nos fazem o bem: o pai, a mãe, um professor, um amigo, um superior, quiçá um que, embora não o conheçamos particularmente, está perto de nós e que somos objeto de sua caridade… Que sejamos agradecidos, reconhecidos, por todo o bem que deles recebemos, sejam os benefícios materiais, é claro, mas, sobretudo, os espirituais como o bom exemplo, o bom conselho, o ânimo para vencermos nossas dificuldades e adversidades…

Sobretudo, nos lembremos daquele que é o nosso maior e incomparável próximo e benfeitor, o Samaritano por excelência: Jesus Cristo. E qual será nossa gratidão para com Ele: a prática heroica do Mandamento do Amor.

Por Adilson Costa da Costa

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(1) Catecismo da Igreja Católica: n. 2447. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 632.

(2) Mons. João S, Clá Dias, EP. Quem é o meu próximo? In: _____. O inédito sobre os Evangelhos. v. VI, Coedição internacional de Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, p. 219.

(3) Idem, p. 222-223.

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